Um Caso de Constelação Familiar

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Por mais que eu já trabalhe e viva Constelação há mais de 20 anos, a força do Campo Sistêmico ou Campo Mórfico sempre me surpreende.

Para aqueles que não conhecem Constelação Familiar Sistêmica, explico que nesse trabalho terapêutico, colocamos representantes para fazer o papel de membros da família ou sintomas que são trazidos pelo cliente a fim de resolver uma questão que o aflige.

Mesmo quando trabalhamos com bonecos ou âncoras de solo, somos surpreendidos pela força do campo que se revela, trazendo informações que nem o cliente, nem o terapeuta tinham de antemão.

Para exemplificar, relato o caso terapêutico a seguir. Claro que o dados pessoais da cliente são mudados para não revelar a sua privacidade.

Maria Amélia tem 29 anos e chegou ao meu consultório para uma constelação individual, colocou algumas questões soltas, mas não sabia explicar muito bem o que a incomodava. Ela só ressaltava que tinha problemas de relacionamento com seus pais. E que o pai a culpava sem uma razão aparente. Ela por sua vez, jogava essa culpa de volta para o pai.

Como ela escolheu um trabalho de terapia individual, não tenho pessoas para representar seu sistema familiar, então represento com almofadas coloridas.

Pedi que ela escolhesse uma almofada para representar a si mesma e se colocasse, depois sua mãe e seu pai. Nesse momento eu me disponho a representar cada um, e marco o lugar no chão com uma almofada. Ela, tocando meus ombros, coloca os ‘representantes’ em algum lugar da sala, um com relação ao outro.

Já no início da colocação dos representantes, peço que a cliente use mais sua intuição do que sua ideia; e que permita que o seu corpo a guie para o local de cada membro na sala.

Ela se colocou, depois colocou a sua mãe e finalmente seu pai. E quando nos afastamos para olhar a uma certa distância, ela expressou que havia pensado em colocar o pai olhando para a mãe, mas na realidade ela o colocou olhando para fora do sistema. Aquilo me chamou atenção e pedi que ela deixasse da forma que seu inconsciente havia colocado.

Olhando atentamente percebi que seu pai olhava para alguém do seu passado. Perguntei a ela se ela tinha alguma ideia de quem poderia ser. Expliquei que alguns fatos têm um peso e que podemos carregar ou mesmo ficar presos a eles. Dei alguns exemplos: uma morte precoce na família, um natimorto, um aborto, etc.

Nesse momento ela lembrou de um avô do seu pai que havia morrido novo de forma bem específica. Ele tinha uma amante e foi traído por ela. Pouco depois desse fato, ele morreu de forma abrupta e toda essa história foi, de uma certa forma, camuflada.

Nesse momento, colocamos o seu bisavô diante do seu pai e me veio nitidamente uma sensação que ela poderia estar energética e inconscientemente no meio dessa trama. E o que se segue é ainda mais impressionante.

Coloquei-a diante do seu  bisavô e de imediato a serenidade de Maria Amélia se transformou em pânico e em descontrole emocional profundo. Retirei-a imediatamente do papel, porque a cena se tornara clara: Maria Amélia representava no sistema a amante do seu bisavô.

Quando eu expressei essa percepção para ela, muitas ‘fichas’ começaram a cair. Ela pode entender que a culpa que o seu pai colocava sobre ela, era na verdade, a culpa que ele sempre colocou sobre a amante por ter ‘matado’ seu pai. Nessa época o pai de Maria tinha menos de 10 anos.

Vários outros pequenos movimentos ainda se sucederam nessa constelação, principalmente o de Maria Amélia assumir novamente o seu lugar de filha e bisneta e devolver a carga de ser vista pelo seu pai como a amante que ‘matou’ o seu avô.

Depois desses vários movimentos de alma, Maria Amélia sentiu-se bem mais leve e percebeu que dera um passo imenso se liberando dessa carga inconsciente que carregou durante toda a vida.

Guilherme Ashara tem formação em Constelações Familiares e Organizacionais com os alemães Bert Hellinger, Sophie Hellinger, Dr. Bertold Hulsamer, Mimansa Farny e Svagito Liebermeister.

Ashara teve a honra de ser pioneiro trazendo a Constelação Sistêmica para o Ceará em 1997 e desde então atua como terapeuta sistêmico e constelador.

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Foto de Guilherme Ashara